
É inevitável que cada geração, ao seu
tempo, seja submetida a desafios que, para o bem ou para mau, irão moldar o seu
perfil coletivo e o legado que, para as que a sucederão, irão deixar.
Nos anos 80, quando ainda era muito jovem, uma doença
desconhecida e mortal se espalhou pelo mundo,ceifando muitas vidas e que impôs
sensíveis mudanças nos hábitos sexuais dos jovens daquela altura.
A doença, então, era a temível AIDS, que
foi combatida com eficiência após a descoberta de retrovirais e,
principalmente, pela adoção de simples atos de prevenção, tais como o uso da
camisinha (em outro artigo comentarei como a atual geração de risco esqueceu as
lições deixadas com àquela terrível epidemia).
Não mais do que quarenta anos antes, toda uma geração de
jovens teve a sua têmpera forjada a ferro e a fogo.
Foram enviados, de todos os os cantos da terra, para
lutar em diferentes teatros de operação, contra o nazismo e o fascismo que, com
o seu manto de injustiças e iniquidades queria cobrir o mundo .
Nesse cenário real se passa o não tão ficcional enredo,
pois baseado em fatos reais, do Resgate do Soldado Ryan.
Ryan é o último filho sobrevivente de uma viúva que, na
guerra, perdeu todos os seus outros filhos que lutavam contra as nefastas
forças do Eixo.
O governo norte-americano, diante dessa situação, enviou
um grupo de combatentes para resgatar Ryan e o trazer em segurança para solo
americano, como forma de aplacar a dor de uma mãe cujo coração estava
dilacerado por perder tantos filhos que se sacrificaram para libertar o mundo
da tirania.
No início do filme, Ryan, já um senhor muito idoso, é
levado por seus familiares à Normandia para visitar o túmulo de seus
companheiros de guerra e combatentes que foram lhe resgatar.
Ajoelhado diante de um mar de cruzes brancas, Ryan,
chorando copiosamente, olhando para um túmulo, pergunta: eu mereci?
Todos os que foram lhe resgatar, no curso da jornada,
foram mortos. O último de seus “salvadores”, atingido por um mortal disparo do
inimigo, momentos antes de ir ter com a eternidade, diz: faça por merecer!
Essas duas cenas, onde um roga que a vida vertida por
tantos, para salvar um só, não seja em vão, e a do outro, que passou a vida
tentando justificar o sacrifício de tantos, faz-me pensar no momento que
estamos vivendo.
Será que justificaremos os esforços dos que nos
antecederam? Seremos modelos para os que nos sucederão? Deixaremos para as
gerações futuras boas lições a aprender?
Definitivamente não tenho respostas para isso agora.
Quanto a mim espero honrar o bom exemplo dos que vieram
antes de mim e servir de referência de retidão aos que virão depois!
E que a crise nos traga a possibilidade de deixar
positivas lições a ensinar à posteridade.
E que Deus tenha piedade de nós!
Fabio Costa Pereira
Procurador de Justiça no
Estado do RS, Presidente da Associação Brasileira dos Estudos da Inteligência e
Contrainteligência (ABEIC) e especialista em Inteligência Estratégica.